terça-feira, setembro 11

O ócio criativo

Bom, a Prisca me perguntou como eu aguento esse tempo de espera aqui, sem nada pra fazer.
Pra falar a verdade, o David foi embora em Março. Até Junho eu trabalhei, fiz francês, estive bem ocupada. Logo em seguida, operei, o que me deixou de molho em Julho e um pouquinho em Agosto. Então, pra ser bem sincera, faz um mês mesmo que estou sem naaaada pra fazer.
Só que eu sei o quanto isso é diferente pra quem está no Brasil ou fora. Se eu tivesse sem nada pra fazer na Inglaterra, estaria morrendo de tédio. Afinal, as coisas são diferentes.
Aqui a gente pode se dar ao luxo de ter uma empregada doméstica, então eu não passo o dia absolutamente sozinha. E os serviços de casa não preciso mais fazer (coisa que cai na rotina e enche o saco). Também tenho meu cachorro querido, que é uma puta companhia pra mim. Ele vive grudado!
Minha mãe tem trabalhado aqui pertinho de casa e tem vindo almoçar, então na hora do almoço a casa fica um pouquinho mais movimentada.
Eu tenho dividido meu tempo entre cozinhar (coisa que eu amo), fazer artesanato (qualquer coisa que me passe o tempo), alugar uns filmes na locadora desses que a gente quer ver há um tempão e nunca consegue, assistir aos meus programas favoritos na TV e ler muito. Este último tem sido meu hobby dos últimos tempos. Já li três livros em menos de um mês, sendo que dois deles tinham mais de 300 páginas. Acabei de ler ontem "O caçador de pipas" e amei. Ele é longo, mega detalhado, mas é cativante e emocionante. A estória se passa no Afeganistão desde cerca de 1960 até 2001, abrangendo toda a vida normal, a invasão do Afeganistão, as guerras, guerras civis, domínio talibã, até a guerra pós 11 de Setembro (hoje, por sinal). E é muito legal ler coisas desse tipo. Sabe, a gente é meio robotizado. Sem querer generalizar, muita gente acha que no Afeganistão só tem miséria e homem bomba. E é muito importante quando um escritor de países assim, com a imagem tão defasada, tem a oportunidade de mostrar o outro lado da moeda para o mundo.
A estória fala de dois meninos, Amir e Hassan. E agora quando eu escuto alguma notícia de bomba no Iraque ou em qualquer outro lugar, de terrorismo e islamismo, deixo de ser um pouco inerte (o que infelizmente nos tornamos com a banalização da criminalidade) e penso, sinto. Penso como se algum desses inocentes pudesse ser um Amir ou um Hassan. Gente que, como a gente, só quer paz e um mundo melhor. Por isso este livro é tão incrível...
O outro que li foi "100 dias entre céu e mar", do Amyr Klink (outro Amir heheh). Acho que já comentei dele, é fantástico. Dá vontade de mudar a nossa vidinha medíocre e fazer alguma coisa por nós depois de ler a história de um cara que cruzou o Atlântico em 100 dias, num barco A REMO!!!!
Além desses dois ainda li "Sonetos", de Camões. Mas pra ser bem sincera, não gostei muito não. A não ser alguns poucos e, claro, aquele fatídico e mega conhecido "Amor é fogo que arde sem se ver..."
Agora vou começar a ler "No país das sombras longas", de Hans Ruesch, que conta a vida dos esquimós. Achei a linguagem um pouco chata porque a edição é antiga, então espero não enjoar dele logo.
A razão de eu estar imersa em livros é que minha mãe está trabalhando numa biblioteca municipal. E assim é ótimo, ela pega tudo o que acha que eu possa me interessar! E eu passo o tempo, amplio minha cultura e viajo entre lugares e personagens fantásticos!
Bom, deu pra ver que não tenho tido tanto ócio assim. Mesmo porque vira e mexe vou fazer compras na feira, no supermercado, resolvo coisas na rua e tem o visto inglês... que tem dado um trabalhão e me colocou numa correria. Fora isso, como vocês já sabem, tenho me acabado na academia! Quando sinto que não vou ter muito o que fazer, corro pra lá e fico três horas fazendo aulas diferentes! E quando dá na telha ainda vou à noite também!
Pri, sei que fora do Brasil é bem mais entediante. Mas isso passa logo. A gente tem que dar tempo ao tempo... Enquanto isso, aluga uns DVDs, pega uns livros pra ler (me avisa se você quer que eu leve algum daqui pra você!), faz suas costuras, aprende uma receita nova, sei lá! Passa o dia fazendo um home spa, cuidando de você, vai dar umas voltas... Não tem nenhum curso que você possa fazer? Mas tente não se preocupar tanto, isso passará logo.

1 Comment:

Prisca said...

Guria, fiquei até emocionada de você escrever um post pra mim! Obrigada por pensar em mim e entender o meu sofrimento. Eh verdade que tem muitas coisas que eu poderia fazer, mas falta ânimo (é a conhecida bola de neve). Ler, por exemplo, é uma dessas coisas. Eu amava ler quando era mais nova (acho que é por isso que desenvolvi tanto o meu senso de linguagem, de escrever bem e de julgar se um texto é bom ou não). Na adolescência, as aulas de literatura tiraram muito esse meu gosto pela leitura (não deveria ser o contrario??), e na faculdade isso soh se acentuou. Quando você diz sobre a linguagem um pouco chata do livro de Hans Ruesch, acho que é o que sinto quando pego um livro de sociologia. Um assunto tão interessante e abrangente pode se tornar maçante quando o escritor rebusca demais a linguagem. Isso pra mim é pedantismo. Um livro, para ser acessivel, tem que ser compreensivel por todas as pessoas letradas. E compreensivel não significa usar apenas palavras faceis (isso pode tirar a riqueza da obra), mas falar de maneira clara. Geralmente a falta de clareza é algo muito comum nos textos acadêmicos e de intelectuais. Vai ver eles acham que isso coloca eles num nivel inatingivel (o que de certo modo é verdade).
Enfim, se você tiver livros interessantes e gostosos de ler, pode trazer pra mim, vou lê-los com o maior prazer. Eu tenho aqui uns livros em francês, se você quiser a gente faz uma troca. ;)
Mi, espero que essa sua espera termine logo, pra você poder vir pra cah e tocar a tua vida.
Mil beijos, com pensamentos positivos!
Pri