sexta-feira, abril 20

Doida é a vóóóóóóó!!! (ou era...)

Hahahahahaha! Depois que eu vi o comentário da Luma, resolvi esclarecer uma coisa... como o outro blog estava mais do que abandonado, muitos não devem ter lido sobre a vovó, vulga pequena cidadã inglesa insana... Pois é, muitas estórias surgiram por causa dela. Pra quem não tá entendendo bulhufas, um resuminho rápido:

A vovó era avó do David, que na época era só meu namorado. No ano em que eu morei com ele (2005), ficamos na casa da avó dele. Afinal, ele morava com ela desde os quinze anos... Conheci a vovó em 2003, quando ela ainda era quase normal. Na verdade ela teve alzheimer. Sei, mais do que ninguém o quanto essa doença é triste, minha avó também teve. Mas só quem convive com alguém que tenha Alzheimer sabe o que é que a gente enfrenta. Um ano com ela e quase quem foi internada num manicômio fui eu!!!!! Era uma gracinha, mas me tirava do sério muito mais do que era uma gracinha!!



Enfim, a vovó morreu sim. Fez um ano esse mês. Eu já estava aqui e, no fundo, fiquei arrasada! Óbvio que, apesar de tudo, eu tinha afeto por ela!!! Eu cuidei muito dela, dei muita atenção, muito mais do que a própria família... E eu fiquei arrasada de verdade, porque sei o quanto ela gostava de ser cuidada por mim e fiquei péssima por não poder estar ao seu lado na hora em que ela precisava.
O motivo da morte dela é um post a parte. Ela foi vítima de uma barbaridade, uma absurda negligência médica em plena terra da Rainha. Coisa que, acreditem se quiserem, acontece - e com frequência - na Inglaterra, principalmente com idosos. Enfim, ela tinha um câncer no estômago que nunca foi detectado ou investigado pelos médicos. Estava em estágio tão avançado que só deram morfina para ela nos últimos dias.
O David ficou um caco, dormiu com ela por duas semanas... é nessa hora que eu queria estar lá. Pra cuidar.
Tá certo que vocês só conheceram o lado LOUCO dela, a minha ira... mas existia uma cumplicidade e um carinho que eu nunca contei antes. Apesar dela só ter me reconhecido uma única vez, era eu quem a ajudava a se vestir todos os dias, quem lhe dava de comer, quem sentava com ela todas as madrugadas na cama para explicar que ainda não era de dia e ela não precisava se vestir e descer...
Foi duro pra nós dois, principalmente, que tínhamos mais contato e uma relação de amor mesmo. A família dele sempre foi negligente...
Mas é isso. Infelizmente ela se foi, mas sei que está em um lugar melhor e numa situação infinitamente melhor do que estava aqui. Deus que me perdoe, mas cheguei a desejar que ela fosse algumas vezes... não por mim, óbvio! Mas pelo simples fato de que nenhuma pessoa nesse mundo merece viver com Alzheimer em estágio avançado... a ponto de não saber quem é, onde está, o que está acontecendo... viver com medo das pessoas que no fundo lhe querem bem, sentir-se desconfortável na própria casa, achando que não a conhece. Sem saber o que é dia ou noite.
Por outro lado, para nós dois foi uma virada de página. Só eu sei o que eu enfrentei para ficar com o David... quase nenhuma mulher teria suportado a avó do namorado quase 24 horas por dia, em estágio avançadíssimo de loucura, por um ano. Quem já passou por isso sabe... Por isso que eu digo que a página virou, porque agora vamos poder, finalmente, ter uma vida só nossa. Seremos um casal.
Outro dia estava conversando com uma amiga que cuida do pai que teve derrame, em estágio quase vegetativo. E ela mesma me disse que prefere cuidar do pai assim do que ter passado pela minha situação. Entendam, cuidar de uma pessoa doente já é difícil. Imagine cuidar de um idoso sem o menor raciocínio lógico que anda, tem vontade própria, sobe e desce escada, decide ficar um mês sem tomar banho, sai na rua e não sabe voltar pra casa da porta do vizinho... não é fácil.
Mas, apesar de tudo, rezo para ela todas as noites. E sei que ela hoje, entendendo tudo o que passei, percebe que fiz tudo o que podia para que sua qualidade de vida fosse um pouco melhor.
Nunca me esqueço dessa única vez que ela me reconheceu... Ela estava chorando na sala, perdida, sem saber aonde estava e quem eram as pessoas que ela via. Num raro momento de pseudo-lucidez... eu desci, conversei com ela e expliquei que aquela era sua casa, que o David era seu neto e que nós estávamos lá para o que ela precisasse... E quando disse que eu era a namorada do David ela segurou minhas mãos, olhou nos meus olhos chorando e disse: "você eu sei bem quem é... eu nunca, nunca vou me esquecer de você e do que você faz por mim". Eu chorei e a abracei. E senti que aquele foi o momento mais verdadeiro em um ano inteirinho...
God bless her wherever she is...

1 Comment:

Luma Rosa said...

Oi Mi!! Valeu!! Acho que vocês tinham que passar por essa situação para se fortalecerem. Toda história tem dois lados e muitos momentos em que a nossa cabeça nos confunde, justamente por causa de sentimentos conflitantes. Também não estamos preparados para tudo, a não ser quando passamos por eles e aprendemos na marra.
Outros obstáculos virão, mas com certeza com tudo que já construiram, tudo será mais fácil de superar.
desculpe se falei alguma besteira! Beijus